Histórias às margens


Geografias políticas mundiais e fronteiras territoriais indígenas entre Andes e Amazônia no período (pré)colonial e suas repercussões contemporâneas


Esta pesquisa tem como objetivo a compreensão da criação da noção de fronteira e os seus efeitos no sentido de obliterar as múltiplas e ainda pouco exploradas relações entre as terras baixas da Amazônia e as áreas altas da região Andina, mais especificamente a área localizada atualmente entre as porções leste da Bolivia e do Peru e a Amazônia ocidental brasileira.

Nesse sentido, busca fluidificar uma dicotomia instaurada ainda no período colonial entre as chamadas civilizações Andinas e as zonas florestadas das terras baixas, ocupadas por populações indígenas que ficaram conhecidas como ahistóricas, com formas sociais menos estáveis, e cujas formas de organização seriam horizontais, sem a formação de um Estado.

Consolidada no século XX pelas categorias classificatórias de cunho evolucionista no âmbito da Antropologia, essa ruptura foi decisiva tanto para orientar os recortes acadêmicos posteriores acerca das populações ameríndias, quanto para oficializar uma certa história destas populações e regiões. Refletir sobre as sobreposições e articulações entre as populações dessas regiões separadas à época da conquista espanhola e portuguesa, pode nos revelar formas de interações interétnicas que vão além das fronteiras sócio-ambientais tão reificadas nas categorizações ocidentais.

Os modelos de cultura ocidentais pautados em torno do poder do Estado, da economia agrícola e da materialidade monumental da permanência, reencontrado na noção de Patrimônio Cultural “de pedra e cal” no início do século XX se opunham aqui a transitoriedade dos ritmos da caça, pesca e coleta, manejo e plantio agroflorestal e construções orgânicas.

Para tanto, nos voltamos para a análise de fontes históricas, arqueológicas e etnográficas que possam fornecer indícios das distintas relações estabelecidas entre as diversas populações indígenas que viviam nesta região extrapolando as fronteiras estabelecidas.

A pesquisa se volta para a análise de fontes históricas, arqueológicas e etnográficas que possam fornecer indícios das distintas relações estabelecidas entre as diversas populações indígenas que viviam nesta região extrapolando as fronteiras estabelecidas.

Tendo em vista a diversidade de povos, línguas, e formas de troca na área de pesquisa, a pesquisa selecionou três materialidades para análise: a castanha, o cacau e o Mariko, uma bolsa trançada ou em fibra de tucum ou em algodão. Os três suportes selecionados materializam redes de troca seja de plantas, objetos ou de narrativas, entre povos indígenas e tem o potencial de articular narrativas, nomes, caminhos e processos interétnicos de maneira mais ampla. Através de uma análise interdisciplinar, podemos pesquisar como estes elementos materializam redes historicamente profundas de trocas entre povos indígenas na fronteira entre terras altas e baixas.

Palavra-chave: História Indígena; Fronteiras culturais; Arqueologia das Terras Baixas


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